Campo das Cebolas - Campo das Cebolas
A intervenção no conjunto da antiga Ribeira das Portas do Mar e do Campo das Cebolas centra-se na criação de um espaço urbano de conforto, através de um conjunto de operações sobre o território muito contidas, de grande serenidade. A definição de um lugar que, pelas suas circunstancias e pela sua natureza e formalização, se contrapõe ao vizinho Terreiro do Paço. Não um espaço seco, de representação, com uma relação visual e física com o rio, franca e encenada, mas antes uma praça em vários momentos que, olhando o rio, se volta também para a cidade, recolhida sob um coberto arbóreo. São criadas as condições para que se torne um espaço mais habitável, mais amável, e que, através de uma intervenção discreta, devolve ao lugar a capacidade de ser palco da vida urbana. Materializa-se através da deformação do plano Existente, criando um plano pétreo, ligeiramente inclinado - um anfiteatro - que se volta sobre a encosta da Se, suportado por um muro que ecoa os muros do antigo Cais de Ver-o-Peso / Cais da Ribeira Velha (revelados pelas sondagens arqueológicas), plano que se dobra num pequeno pódio que permite que o olhar voe sobre a avenida marginal e alcance a doca e o Rio. Um gesto contido, mas afirmativo, que defende a praça dos efeitos do trânsito da Avenida Infante D. Henrique. Sob este plano manipulado encaixa-se, literal mente, o parque de estacionamento subterrâneo, replicando, no subsolo, o plano inclinado da superfície, contido pelos muros - expostos - do Cais de Ver-o-Peso.
A cobertura vegetal dos pinheiros mansos, na superfície virada a cidade, concorre para uma possibilidade de desaceleração e descontração, um espaço de estadia, ensombrado e silencioso, que evoca a ocupação volumétrica anterior do espaço. o tratamento da área junto à Casa dos Bicos, a Norte, e sensível ao facto de estar aqui sediada a Fundação José Saramago e ao memorial do escritor ai erguido, hoje exposto de forma pouco reservada, face a via. Propõe-se uma entrada na Fundação mais suave, através da modelação do pavimento. A relação da Ribeira das Portas do Mar com a Doca da Marinha reveste-se de especial importância, tornando-se mais franca e permitindo o acesso efetivo ate ao rio. Esta relação e mediada pela Avenida Infante D. Henrique, reperfilada com eixos arbóreos para um transite mais lento e compassado.
Os recuperados Ribeira das Portas do Mar e Campo das Cebolas são assumidos como uma superfície pétrea, suavemente inclinada, com um tratamento de pavimento especifico e identitário: peças em calcário lioz embebidas em betão, desenhando um padrão que reage aos elementos que o habitam. Na sequência das escavações arqueológicas, foram reutilizados materiais existentes extraídos do local, integrando e preservando pedras arqueológicas na constituição e revestimento dos muros e pavimentos exteriores. Os sistemas de ventilação e iluminação do parque subterrâneo foram concebidos de forma otimizada para minimizar o consumo energético do edifício. Destes sistemas destacam-se a ventilação exclusivamente natural e iluminação diurna natural, realizadas através do pátio exterior central, dos vários acessos distribuídos ao longo do edifício e de aberturas pontuais em paredes.