Casa Rua de Álvares Cabral n.º 339
Decorreu no dia 30 de janeiro, no Museu da Eletricidade, em Lisboa, a cerimónia de entrega das distinções do Prémio Nuno Teotónio Pereira que contou com a presença da Exma. Sra. Secretária de Estado da Habitação, Fernanda Rodrigues.
Sendo este o prémio mais antigo do setor do imobiliário, em Portugal, o Prémio NTP, que distingue os resultados reveladores do domínio técnico incentivando as boas práticas neste âmbito, reuniu no ano 2022 candidaturas na vertente de Reabilitação Urbana e na vertente de Produção Cientifica.
A presente edição registou 55 candidaturas a concurso, 45 na vertente de Reabilitação Urbana e dez candidaturas na vertente de Trabalhos de Produção Científica.
O Júri, na vertente de Reabilitação Urbana, presidido pelo Arq.º Fernando Almeida, entendeu distinguir 7 candidaturas e atribuir 3 prémios, 1 prémio especial e 3 menções honrosas.
Na vertente de Produção Científica, o Júri, presidido pela Dr.ª Isabel Dias, entendeu distinguir 2 candidaturas, tendo atribuído 2 prémios.
» Regulamento do Prémio NTP 2022
O edifício reabilitado (pertencente ao Conjunto de Interesse Público - Conjunto Arquitetónico da Rua de Álvares Cabral) terá sido construído nas primeiras décadas do século XX, e é uma típica casa burguesa do Porto desta época, unifamiliar e monofuncional. O imóvel encontrava-se em estado original, com exceção de algumas alterações precárias e dissonantes. Alguns elementos construtivos encontravam-se degradados, sobretudo os tetos decorativos, consequência de várias infiltrações, e as infraestruturas estavam obsoletas.
Foi adquirido por uma família para habitação própria, sendo necessário acrescentar à casa novas infraestruturas e dota-la de conforto ambiental e maior eficiência energética.
As soluções adotadas refletem uma ponderação entre o custo e o benefício das alterações, de forma a garantir que a essência da construção não seria desvirtuada. A intervenção preserva toda a volumetria original, o desenho das fachadas, a tipologia e a espacialidade interior, assim como o sistema construtivo. A transformação foi profunda, silenciosa, cirúrgica, destacando a beleza dos espaços, materiais e pormenores construtivos originais. O carácter cirúrgico da intervenção foi a maior dificuldade, sendo necessário encontrar um equilíbrio entre a valorização / preservação do património e as melhorias conseguidas ao nível do desempenho térmico e acústico do edifício. Com uma estratégia de intervenção engenhosa, foi possível preservar uma grande parte dos elementos construtivos originais a par de uma transformação profunda, onde se acrescentaram diversas instalações sanitárias e instalaram de novo todas as redes de infraestruturas, incluindo sistema de aquecimento central eficiente. A prévia realização de uma Inspecção e Diagnóstico Estrutural permitiu obter um rigoroso conhecimento do estado de conservação da estrutura (visível e oculta) e adequar a intervenção ao estritamente necessário.
A intervenção distingue os dois pisos principais dos dois pisos secundários (cave e sótão), reforçando a hierarquia pré-existente e tirando partido da expressão dos materiais e elementos construtivos de formas distintas mas complementares. Nos dois pisos principais, as alcovas albergaram as novas instalações sanitárias e criou-se um espaço de estar amplo associando vários compartimentos. Carpintarias e estuques, restaurados e pontualmente completados, ornamentam os espaços. No sótão, espaço quase secreto com acesso reservado, a intervenção subverte as regras da construção original e revela a estrutura da cobertura, tirando partido da sua expressividade plástica. Antigas portas tornaram-se painéis de revestimento e os rodapés foram colocados ao baixo, à cor natural da madeira recuperada do soalho. Sempre que possível os caixilhos exteriores foram também preservados e restaurados, mesmo que com recurso a escoramento de fachadas no caso do piso 0 posterior, para execução da nova estrutura mista de piso que substituiu a pré-existente, irrecuperável.